''Vida'' sempre as mesma coisa.

Olá, meu nome é Brenda. Eu gostaria de contar uma história para vocês. Quando eu tinha oito conheci um garoto da mesma idade na minha escola. Estávamos na segunda série. O nome dele é Scott. Desde então, nossa amizade vem crescendo muito. Nossa amizade é um pouco confundida pelas pessoas, porque afinal somos garota e garoto. Mas não ligamos, somos amigos normais.

Nós morávamos perto um do outro, sempre depois da escola ficávamos correndo pelados na beira da piscina.Ainda me lembro de tudo… Do nosso primeiro mergulho, da primeira vez que fui dormir na casa dele e ele ficou contando histórias de terror para me assustar, do jeito como ele sorria…  O sorriso dele é o sorriso mais incrível do mundo.

Eu me lembro também de quando Scott fez 12 anos, ele estava tão animado zoando comigo porque eu ainda tinha 11, e ele era mais velho. Éramos inocentes, e eu não entendia porque ele ficava dizendo “Queria ser loiro, como você”. Era isso que ele sempre falava, em todos os seus aniversários. “Queria ser loiro, como você…”. Nós dois somos como irmãos, consegue entender? Um cresceu cuidando do outro. Desde os oito anos ele era minha alma gêmea. E ele concorda comigo até hoje…

Bom, as coisas começaram quando estávamos saindo para comemorar seu 15º aniversário. O jeito como ele olhou para mim… Seus olhos estavam cheios de alegria. Achei que seria uma comemoração normal, mas em vez de sairmos pra ir ao boliche, ou outro lugar que costumávamos freqüentar, Scott me levou para os fundos da sua casa, e me disse “Podemos dizer que somos irmãos agora”. Ele tinha comprado uma tinta para cabelo. Ele ia ficar loiro. E queria que eu passasse o produto no cabelo dele.

Meus pais me criaram me levando sempre para a igreja. E lá me ensinaram que isso era coisa de pessoas gays. E ser gay era ruim. Um garoto fazer coisa de garota era errado, e vice-verça.

Bom, eu me neguei. Falei que aquilo era coisa de “Viado” e que ele estava agindo como um… Ele ficou irritado, e falou para eu ir embora. Eu sei, fui uma completa idiota. Eu estava seguindo os padrões de uma sociedade criada por homens, não por Deus.

Eu perdi o aniversário dele. Nós não conversamos sobre isso. Ele não me olhava mais nos olhos. Aos poucos ele foi se distanciando. Ele não ia mais pra minha casa depois da escola. Ele não me ligava e nem atendia minhas ligações. Estava me evitando. E não apenas me evitando, ele estava evitando todo mundo na escola. Nunca mais apareceu na rua para andar de skate como costumava. 

Foi como perder um namorado, ou alguém da família. Eu não tinha o meu Scott dando aquele sorriso, olhando em meus olhos e sempre dizendo “Eu te amo, não me deixe…”. Umas duas semanas depois eu engoli meu orgulho, não me agüentei, e gritei para ele no meio da rua, quando ele se negou voltar junto comigo para casa“Que inferno está acontecendo, Scott? Você está assim só pelo que te chamei na sua casa?”.

Ele me olhou com raiva, e começou a chorar. Eu estou falando sério, naquele momento eu vi meu mundo acabar. O garoto que esteve comigo minha infância inteira, chorando. Estava sendo uma péssima amiga. Desculpei-me, e pedi para vir me visitar depois da escola.

Ele foi, dessa vez. Quando abri a porta do meu quarto, ele me abraçou muito forte, meus ossos até estralaram. E sussurrou no meu ouvido “Você vai me odiar”.

Nesse momento, eu comecei a chorar muito. Ele também. Ele fechou a porta, e se sentou no chão, chorando muito. Eu não sabia o que fazer, só sabia que estava sendo uma amiga/irmã horrível.

Eu disse “Eu nunca vou te odiar, somos irmãos lembra?”

Então ele engoliu as lágrimas e respondeu “Eu sou gay”. Ele parou de chorar, e para o meu horror começou arranhar o próprio rosto com as unhas. No fundo eu sabia que ele era gay, mas nunca quis perceber. Ele não tinha jeito afeminado, mas seus olhos e seu sorriso sempre diziam “Eu sou mais que um garoto idiota”.

Eu tinha que escolher entre o garoto que eu amava e a religião que fui submetida desde criança. Foi ali, vendo Scott desejando morrer que eu entendi. Ele era minha religião. O nosso amor era a porra da minha religião. Ninguém no mundo conseguiria entender o que eu senti naquele momento. Eu senti uma coisa boa, por dentro. Eu não sei se tava começando a ficar louca por ver Scott naquele estado ou se foi Deus querendo me dizer “Se lá houver amor, é onde estarei”.

Então, eu afastei suas mãos do seu rosto molhado e arranhado, ergui ele com uma força desumana, e o abracei muito forte. Eu dizia entre soluções e lágrimas “Isso não importa, eu to aqui. Tudo vai dar certo. Eu não vou deixar nada acontecer com você”.

Naquele dia, eu e Scott criamos o laço de amor mais forte que já criei em toda minha vida.

Alguns meses depois Scott decidiu contar para sua família. Foi horrível, horrível. Mesmo os pais de Scott malucos para dar uns bons cascudos nele, nós saímos correndo para uma balada gay com nossas identidades falsas. Nesse dia descobri que beijar garotas é tão bom quanto beijar um garoto. Então, sou uma vadia bissexual e com o maior orgulho. Scott, que nunca havia beijado um garoto antes, beijou naquela noite. Sabe, estávamos bêbados, os pais do Scott descobriram tudo. Ele estava mal, e eu mal por ele. Naquela noite fizemos tantas coisas erradas… E foda-se o mundo. E quando eu perguntei “Como foi? É isso que você quer mesmo?”. Ele começou a rir e disse “Meu Deus, é bom demais. Eu não consigo nem respirar”. 

Hoje em dia temos 17 anos, e as coisas ainda estão complicadas na casa dele. A mãe dele é uma cobra e já até ameaçou-o de morte. Scott namora um garoto chamado Joe. Joe mora em uma cidade muito longe da nossa. Mas mesmo com todas dificuldades que os dois enfrentam por conta de seus pais, dos infelizes que ficam ameaçando eles de morte e todos outros milhões de problemas que uma pessoa diferente sofre… Eles estão juntos, e se orgulham de ser quem são. Eu tenho tanto orgulho do meu garoto Scott… E ele tem orgulho de mim. Eu vou ser advogada e defender a sociedade homossexual.

Scott trabalha numa biblioteca para pagar a passagem de Joe para cá. Eu sempre ajudo como posso. Joe vem apenas uma vez no mês para nossa cidade, e fica o fim de semana. O vídeo lá encima é o da primeira vez em que eles se despediram. Scott estava com muita vergonha, estávamos no aeroporto de Toronto. Se você abrir bem os ouvidos, pode perceber que eu estou muito emocionada nessa hora, ofegando muito, e balançando a câmera. E quando Joe embarcou, Scott me disse “Eu amo ele completamente, é como se uma parte de mim fosse com ele”. Depois de todo aquele tempo, eu estava vendo meu melhor amigo com seu sorriso sincero de novo, ele não queria se matar ou se cortar.

Bom, você deve estar se perguntando “Eu li tudo isso… E?”. Eu gostaria que vocês colassem isso em seus blogs, sites ou qualquer meio de comunicação. E quero deixar uma coisa clara para todos heterossexuais: Ser gay é como ser negro. Ser gay é como nascer com problemas para crescer. Não é engraçado, e definitivamente não é uma escolha. Não há como mudar a realidade. Pessoas gays são bombardeadas diariamente, então um grandeVAI SE FODER para nossa querida sociedade de merda. Eu gostaria de saber, até quando ela vai impedir que as pessoas sejam felizes? O Scott me tem para protegê-lo. Mas existe um zilhão de Scotts por ai que se suicidam todos os dias porque a sociedade diz que ser quem eles são é errado. É ERRADO O CARALHO. Errado é matar, roubar, ser desonesto. Seja como eu, se arrependa do seu preconceito maldito;